Na
minha adolescência, a imaginação e a sensibilidade brincavam juntas. A escrita
permitia a expressão e a partilha. As redações da escola constituíam um desafio
estimulante e um prazer, sobretudo as mais livres. Os versos eram um recurso
espontâneo que reservava para emoções mais intensas.
Ao entrar no mundo da maioridade e do ensino
superior, a sedução pelo factor humano e a vontade de intervir na construção de
mudanças sociais através do trabalho, dirigiram a escolha da área de formação.
O
impacto foi sentido no primeiro ano do curso, quando me foram pedidos registos
escritos de observação da realidade e relatórios. Tratava-se no concreto, de
descrever as vendedeiras do mercado da Ribeira do Porto e não a poesia que lhes
fosse envolvente. Era a informação pura e dura na luz fria do que se vê e não
na incidência calorosa do que se observa por dentro. A subjectividade não tinha
lugar, nem a empatia. Nem os reflexos da luz ou os brilhos do rio. As metáforas
e o simbólico deveriam embarcar nos rabelos, ficando eu na margem, mais só.
Teria
que formar a futura profissional treinando métodos de observação e registo.
Teria de resistir à tentação de expressar sensibilidades. Teria sobretudo de
subsistir ao sentimento de perda, como se escrever de outra forma representasse
um certo abandono de mim mesma. Teria de me reaprender.
O
tempo é sábio. Vai passando como as águas do Douro e no entanto o rio
permanece, está sempre lá, não deixa de o ser. Também eu deixara correr a vida,
reinventando-me, não deixando afinal de ser quem era. E a impressão de perda podia
ser transposta.
Metaphorá,
a origem grega de Metáfora, significa transposição.
Transposição
é largar as emoções e sentimentos profundos para que possam emergir; e à tona deixar
que se mesclem com tantos outros sentimentos e emoções que correm nas margens
do Trabalho Social; e que então transbordem em escritos que são histórias mais
ou menos ficcionadas, com nomes ficcionados.
Belíssima forma de nos introduzir Metaphorá"
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